Recentemente, como convidado realizei uma Palestra para algumas das principais Instituições Financeiras da Colômbia, sobre o comportamento do consumo prestigioso e a vontade do acesso a tudo que é especial, em Bogotá. Sempre me impressionei com este País e os colombianos. Um País que exportou a cultura Pablo Escobar e que mesmo assim mantinha a gentileza e a educação diferenciada, era no mínimo admirável.
Quando fui executivo da Louis Vuitton na América Latina, minhas viagens à Bogotá eram frequentes. Esta experiência fez com que durante anos eu mantivesse o comentário de que o País e a mão-de-obra colombiana se destacavam na região pelo comprometimento e principalmente, pela presteza.
Nesta época porém, há praticamente 8 anos, as viagens eram sempre carregadas de tensão. O País imerso na conturbada questão do tráfico de drogas e a violência urbana que acompanhava o caos, fazia com que tudo fosse tenso. Éramos sempre alertados a não sair do hotel depois das 22h, de jamais pegar qualquer transporte desconhecido no aeroporto internacional, bombas explodiam nas ruas e muitas vezes havia o toque de recolher.
Diante deste cenário, as oportunidades de emergência social eram limitadas. O movimento do upscale era inexistente. Restaurantes especiais e exclusivos, quase não existiam. O Hotel Casa Medina se não o único relevante era praticamente a única opção inclusive para realização de eventos, os modelos dos carros eram mais velhos e antigos do que no Brasil e o varejo aprendia sobre inovação com o Centro Comercial Andino, que despontava como uma alternativa principalmente pelo fator segurança.
Foi nesta época que aprendi sobre a visão de longo prazo do segmento do Luxo. O curto prazo e resultados imediatos, impossibilitaria e limitaria o investimento de uma marca como a Louis Vuitton. No longo prazo, entretanto, fazia sentido. É necessário tempo para que os melhores resultados apareçam. Ser persistente à esta crença empresarial faz toda a diferença. E como o tempo fez bem a Colômbia!
Eu não visitava o País há 7 anos. Acompanhei o período do Presidente Uribe a distância. Para minha grata surpresa, encontrei um novo País e uma cidade que sorri. Um povo que se já era educado e prestativo, teve sua auto-estima elevada. O que antes era restrito, a emergência social e a busca do acesso ao especial, está em todas as partes do País. Cidades que no passado eram sem leis e totalmente reféns das drogas, como Medellín e Calí, despertam de forma surpreendente para uma patamar de diferenciação social.
Os principais eventos têxteis e de moda colombianos estão em Medellín, cidade que explodiu em cirurgia plástica nos últimos anos – o belo/estética assumindo seu papel e alguns dos restaurantes mais exclusivos e especiais do País, estão em Calí.
O País e Bogotá vivem a explosão imobiliária e a barreira dos apartamentos que alcançam os valores de milhão e mais de 500m2, foi ultrapassada. A construtora Escalar que constrói alguns dos mais importantes empreendimentos de alta renda, como o Peñas Blancas, só realiza atendimentos exclusivos. O valor do metro quadrado mais que triplicou neste período e o movimento aspiracional se dá cada vez mais perto da parte alta da cidade, perto das montanhas para garantir a vista.
A gastronomia vive um momento aquecido, com novos restaurantes especiais surgindo a todo o tempo e transformando regiões, inclusive o entorno do tradicional (e bem melhor) Hotel Casa Medina. Neste quesito, a comida Peruana e os chefes Peruanos, se tornaram estrelas. Já existe um roteiro de charme sugerindo alguns dos mais exclusivos pequenos hotéis no território Colombiano e cadeias internacionais da Hotelaria de negócios e também de Luxo, já são possíveis de serem encontradas.
A onipresente rede de cafeterias Juan Valdez Café, da Federação dos Plantadores de Café Colombianos, tem muito a ensinar a Starbucks e as cafeterias Brasileiras, inclusive fizeram uma proposta de compra pela rede americana.
O Centro Comercial Andino cresceu, ganhou novas marcas internacionais e possui salas de cinema mais interessantes e exclusivas do que o Cinemark Especial localizado no Shopping Cidade Jardim em São Paulo. Multimarcas de vestuário, acessórios, relógios e jóais estão em todas as partes. Redes como a Bauer, Luxus, Sterling, Le Collezione e La Riviera não deixam nada mais a desejar.
Os modelos dos carros mais do que atualizados, já são na grande maioria mais modernos dos que circulam no Brasil, devido principalmente ao fator tributário mais competitivo. A Rede de Supermercados Sumus soube na mesma operação mesclar Empório com Varejo, debaixo de estilo e diferenciação prestigiosa.
As bombas já não explodem mais. Já não é proibido tomar táxis na ruas. Já é possível planejar o futuro e tentar antecipar o amanhã. A Colômbia das máfias, do chips de plátano e das fascinantes flores, se modernizou – mudou. Um dos Bancos que me reuni, me apresentou um projeto, que uma vez implementando, fará com que os mesmos sejam a principal referência de serviço premium do mundo. Utopia? Depois de observar a capacidade do País e do povo colombiano de superar e solucionar problemas, quem seria eu para duvidar?
Voltei da viagem admirando ainda mais o País que durante anos me cativou e com a certeza de que todos querem acessar a tudo que é especial, quando as oportunidades são geradas.
Em um dos diversos outdoors de lançamento imobiliário espalhados por Bogotá li a seguinte frase: “estamos imaginando o edifício especial que aqui será construído”.
Estou agora imaginando o que seria possível e o que precisa ser feito em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte... nossas principais capitais.
A Colômbia mostra que é possível!
Carlos Ferreirinha – Presidente da MCF Consultoria & Conhecimento, especializada nas ferramentas de gestão e inovação do Luxo e Premium – www.mcfconsultoria.com.br, com atuação no Brasil e América Latina
Fonte: Revista Makingof - www.revistamakingof.com.br
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