quarta-feira, 17 de junho de 2009

BRASIL E ANGOLA

Irmãos gêmeos separados na infância!

Um País de Contrastes. Ritmo acelerado. Poeira. Gruas. Crescimento vigoroso. Frustrações. Custo de vida muito alto. Curiosidade. Carros. Filas em postos de gasolina. Sim, muitas filas. Inacreditáveis filas. Gasolina barata? Não. Volume de carros. Onde mais no mundo as peças de carros desmontados são mais onerosas que os próprios carros em bom estado de conservação? Esta é a Luanda atual e contemporânea. A São Paulo de Luanda do passado ficou no passado.

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A Luanda atual está “nervosa”. Ansiosa para resgatar um tempo que lhe foi tomado durante uma avassaladora guerra civil que lhe tomou 30 anos. Nem mesmo completou 07 anos desde o fim da Guerra e Luanda já surpreende. Na verdade, os Angolanos surpreendem. Como é possível emergirem de uma guerra sendo um povo cordial, educado, gentil e carinhoso? Como é possível manter um sorriso no rosto diante de tantos obstáculos e tanto que precisa ser desenvolvido? Não há duvida alguma que a explicação para isso é que além da Esperança, existe uma tensão de Curiosidade. Já dizia o Sr. Walt Disney na teoria dos 04 C´s: sejamos curiosos! Os Angolanos têm pressa e estão curiosos.

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Precisam ainda viver uma vida. A vida que lhes foi tomada e que precisa ser rapidamente recuperada. A alegria nos serviços e a cordialidade do atendimento suplantam e muito as limitações técnicas que demandam evidentemente formação e capacitação. São novos passos que precisam ser dados nesta direção. O conceito “comprometimento profissional” na prestação de serviços ainda está em sua fase inicial e básica.

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Mas, até mesmo quando este serviço é fragilizado pela agilidade e precisão, existe um pedido de desculpas ao final. Estes obstáculos perdem a importância e relevância diante do sorriso que encanta e emociona carregado de uma ingenuidade visceral e até mesmo desconhecimento. A vontade de aprender e se desenvolver virão com o tempo e este tempo será mais rápido do que qualquer especialista poderá prever.

O trânsito terrivelmente engarrafado, sem critérios e leis, é apaziguado pela imagem do crescimento que convive lado a lado, pela movimentação das pessoas, das mulheres que carregam nas cabeças de tudo um pouco e até filhos na cintura seguros por um pano, bem diferente do que carregaram durante a guerra para alimentarem as tropas – as célebres Zungueiras; a imagem das crianças correndo de um lado para o outro gozando de um sentimento de liberdade. Exercendo o direito infantil delas de serem livres (liberdade reconquistada há apenas 06 anos), felizes e leves. Afinal isso é ser Criança.

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Já é possível sentir um futuro para estas crianças Angolanas ou pelo menos se acredita nele. Se antes já gostavam de terem filhos, agora mais do que nunca. As famílias são grandes. É normal terem 7, 6, 5, 4 – 3 filhos. Gerar crianças representa fertilidade, o que claramente indica o atual momento “fértil” do País e ajuda a todos acreditarem que existirá um amanhã e mesmo que este amanhã ainda tenha pela frente o desafio de retirar dos campos um total aproximado de 8 milhões de minas que quando comparado ao total de 30 milhões que Angola teve que lidar, este atual número faz acreditar que sim, é possível. Em todos os lugares que se olha, tem movimento acelerado de mudança e transformação.

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Prédios modernos, o custo do metro quadrado impressionante, restaurantes surpreendentes e modelos de carros tão modernos e atualizados que até parecem que foram somente produzidos para rodarem em Luanda. Mas como dirigir nas incríveis ruas e avenidas largas de Luanda, que não podem ser observadas desta forma durante o dia devido ao caótico trânsito? E isso importa? O que importa agora é ter um carro e de preferência uma SUV e o último modelo. O trânsito também é um caos na China e no Peru mesmo sem os candongueiros de Luanda. Nada, porém detém a vontade de acessar o que é especial.

A vontade de acessar o que era especial apenas para alguns até bem pouco tempo. O movimento natural do upscale social. Afinal, como diria Sr. Castelo da empresa BDM em Luanda: “Crises geram idéias. Quem não gosta de viver em desenvolvimento?”. Os adultos, bem adultos, voltaram a estudar. Só que desta vez, em Angola – em Luanda e não mais fora do País. Cursos surgem em todos os lados. Ciências sociais, Mecatrônica, Direito. Não importa. A regra é estudar. É como ter a chance de fazer algo que há muito tempo quiseram ou que de alguma forma não tiveram condições no passado de fazer em paz ou dentro do tempo esperado. Tempos de guerra. Balas cruzando. Aviões subindo e descendo em espiral. O não direito de ir e vir. Há pressa. Há emoção. Há movimento. Movimentos em todas as partes.

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A música local já está alinhada aos ritmos do mundo. Locais como Chillout e Café del Mare fazem-nos sentir que estamos em Ibiza no sul da Espanha. Os ritmos locais, como o Kuduro, que embala principalmente os “pequenos” como dizem na África, já são grandes sucessos. Os cantores locais surgem continuamente. Desenvolvimento cultural demonstra a necessária e vital ebulição social. Os Africanos têm ritmo. São embalados pela música. Música é uma natural demonstração de alegria. Ver um Africano dançando é acreditar que Deus deu sim a eles um algo a mais. É este o ritmo que embala Angola que será a Capital da CAN 2010 – Copa Africana das Nações no próximo mês de Janeiro.

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Um ritmo nervoso ora não tão harmonioso, como os cartões de crédito internacionais que dificilmente são aceitos, mas há um ritmo e há muito que ser feito. O tempo será guardião da ansiedade. Não se pode acreditar que se pode ir mais rápido do que o tempo natural de maturação das pessoas, do sistema, do entorno. Mas, muito tem sido feito. E muitos sãos os planos sejam eles de logística, de um novo Porto, de estradas ou de urbanização e em breve, a saúde e educação terão que ser prioridades. Urge transformação nesta área tão deficitária. Este ritmo de Angola lembra o Brasil do período JK – de Juscelino Kubitschek ou até mesmo o Brasil do hoje.

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Afinal, ainda falamos de um choque de infra-estrutura necessária no nosso próprio Brasil. Angola: Um País em reconstrução. Províncias como Benguela, Huambo e Huila sendo reconstruídas. Huambo que havia sido planejada para ser a “Nova Lisboa” – a nova capital de Angola e que foi praticamente destruída pela guerra, já vem sendo preparada para ser a Reserva Ambiental da África. Uma sociedade sendo formada. Estar em Angola, que já foi a quarta maior fornecedora de diamantes do mundo, é também ter a oportunidade de entendermos quem somos e de onde vem parte de nossas influências Brasileiras. Existe ainda muito de Portugal como também existe no Brasil; seja na comida ou na arquitetura art decó do centro antigo.

Mas, muito em Luanda também me lembra São Gonçalo, a humilde cidade do interior do Rio de Janeiro que vivi até o início da minha juventude e onde até hoje minha família e amigos residem. A diferença talvez seja o fato de que São Gonçalo continua a mesma cidade de 30 anos atrás e Luanda em 06 anos não se conforma, quer mudança e tem mudado. Estar em Angola é reconhecer muito do nordeste Brasileiro, que durante toda uma existência, sempre esteve associado à pobreza, a exclusão social, o não acesso às necessidades básicas de segurança, educação, alimentação e higiene. Importante ressaltar que a sensação de segurança em Luanda (que estava em guerra até recentemente) é bem maior do que sentimos em cidades Brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo e Recife, mesmo com o crescente número de criminalidade acompanhando a evolução do País.

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Problemas recorrentes em Angola. Problemas recorrentes no Brasil. Mas, verdadeiramente uma busca de alternativas em ambos. A grande surpresa de crescimento nos últimos anos no Brasil já não é mais o Sudeste, mas sim, o Norte e Nordeste. Muito precisa ser feito urgentemente em Angola. Mas, é importante reconhecer o quanto já tem sido feito. Visitar a zona de Talatona é relembrar o que aconteceu anos atrás na região da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro ou o que está acontecendo ainda no Recreio dos Bandeirantes ou em Manaus. Condomínios residenciais, dos menores aos maiores, dos clássicos aos ultras modernos, a explosão dos mais diversos serviços e novas escolas. São novos bairros. Novas zonas comerciais. Desenvolvimento aquecido.

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Não muito distante do que a Colômbia passou recentemente, principalmente em Bogotá ou em cidades como Medelín e Cali que haviam sido destruídas pelo narcotráfico. Atualmente, Medelín e Cali brilham. Angola – Luanda depois da guerra busca este brilho. Haveria alguma diferença entre a guerra do tráfico da Colômbia para a guerra civil de Angola? Não creio. A perda foi gigante em ambas as situações. Quando perguntei a alguns Angolanos sobre o que foi pior no período da guerra e o que de melhor tem acontecido agora no pós-guerra, a resposta foi a mesma:  Formação – Educação. A possibilidade de se criar a cultura de formação seja educacional, civil, social ou sendo parte de uma sociedade.

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A elite cultural atual de Angola que estudou fora e que se preparou e se capacitou, tem ajudado na condução deste ritmo da Angola atual. Muitos sãos os planos e projetos. Emocionante perceber nos empresários locais a vontade da mudança. Esquecer o ontem, viver o hoje e criar o amanhã tem sido a tônica dos Angolanos. Admirável. Para este hoje e para este amanhã, oportunidades não faltam. Em cada canto da cidade ou do País, há um canteiro de obras. Nossa amiga Lucilia também da BDM diz que “até mesmo as calçadas estão mudando de lugar”. Verdade. E o Brasil está em Angola no conceito de Shopping Center, no cinema, na música, na Igreja Universal, nas novelas Globais, na comida e na quantidade de empresários e investimentos.

Impressionante como têm Brasileiros em Angola e impressionante como muitos são Pernambucanos – Acredito até que os Portugueses já foram suplantados por nós, Brasileiros, no território Angolano (importante esquecer por alguns momentos a invasão Chinesa no País). Mas, os Angolanos também estão no Brasil nos investimentos, no consumo de luxo e de beleza, nos estudos, no turismo e muito em breve algum restaurante especializado em funge será aberto em São Paulo. Nossas favelas em grande maioria são verticais. As favelas Angolanas, as Musseques são horizontais. Até sobre favelas podemos trocar experiências. E que ironia da vida! Ambos os Países, Brasil e Angola, colonizados por Portugal, fez com que muitos de nós, Brasileiros e Angolanos tivéssemos como sonhos, imigrarmos para a terra dos “Portugas”.

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E hoje, quem diria, os “Portugas” querem imigrar para a economia crescente e em desenvolvimento de Angola e Brasil. As peças do tabuleiro de xadrez foram alteradas. Oportunidades não faltam. Fascinante evolução. Impressionante busca da diferenciação. Vaidade e estilo procurando seu espaço. A teoria de Maslow ensina que o consumo acontece somente por 04 níveis de necessidades: segurança, fisiológica, indulgência e status. Angola passa pelos 04 simultaneamente.

E não há nada de errado nisso. É o que monta uma sociedade de consumo. Os tecidos do vestuário das mulheres Angolanas continuam ofuscando de tanta beleza e de tanta cor. O colorido é sinônimo de África. Entretanto, o interessante mesmo é observar o homem. Tudo que o mundo de alguma forma tem percebido sobre o Homem que assume cada vez mais um novo papel no contexto do consumo, é devidamente percebido em Angola.

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O homem Angolano tem estilo, elegância e é vaidoso; carrega eferências mundiais mantendo um estilo muito próprio e entende de arcas de prestígio sejam elas Francesas, Italianas ou Brasileiras. Na evolução do consumo, ainda pegando como base o estudioso Maslow, consegue-se entender o porquê do fenômeno Nespresso do “George Clooney” já ter em alguns Angolanos a percepção de distinção e o porquê que o estilista masculino Brasileiro Ricardo Almeida, já tem alguns dos seus principais clientes, os Angolanos. Qual o próximo passo?

Garanto: Spas, resorts, hotéis, cafeterias, modelos privates dos Bancos, clínicas nas mais diversas áreas, mas principalmente as estéticas, moda, decoração de interiores. A explosão de serviços especiais virá antes do varejo de luxo. Será difícil e lento o processo de ruas e centros de comércio para abrigarem as principais marcas de Luxo do mundo, mas não impossível. Apenas o tempo será outro. Mas, os Angolanos não deixarão de comprar ou acessar produtos e serviços de Luxo ou Premium seja localmente ou internacionalmente. Em alguns lugares de entretenimento social é fascinante perceber que o mundo e as mais diversas culturas já estão em Angola.

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O processo é o mesmo. O mundo em Angola. Angola no mundo. Tem que ser. Afinal, somos seres humanos que reagimos igualmente diante do que é belo e do que é especial. A era da “premiumzação” também já chegou a Angola e lentamente entrará no cotidiano das diversas camadas sociais. O termo Luxo já vem sendo inclusive utilizado principalmente pelas construtoras na apresentação dos surpreendentes condomínios residenciais. Em um País onde praticamente tudo é importado, a tarefa da diferenciação não é tão simples; afinal não basta ser importado – em Angola, isso é comum. No negócio do Luxo é fundamental que no consumo o desejo prevaleça em relação à razão. O filósofo francês Bertrand Russel afirmava que “toda atividade humana nasce do desejo”.

Os Angolanos desejam e isto fará com que os hábitos de consumo sejam alterados. E junte a isso o fato de serem alegres, simpáticos, amigos, de terem o conceito família, a crença de que o amanhã será melhor do que hoje e definitivamente de ontem. Muito do que nós, Brasileiros, temos e somos. Seríamos nós irmãos gêmeos separados na infância? Sinceramente, acho que sim. A aproximação entre Brasileiros e Angolanos não poderia ser mais do que natural. Em Angola nos sentimos “em casa”. Os Angolanos no Brasil se sentem “em casa”.

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O novo duelando com o antigo. A pressa, vontade e necessidade de se acompanhar a realidade do mundo. O antigo e o moderno. Países que sofrem com grandes obstáculos, mas que ao mesmo tempo desenham futuros admiráveis. Crendices. Superstições. Diferenças sociais. Definitivamente, fomos separados na infância. Não se pode comprar o pacote da mudança e da transformação pronto. O acerto vem do exercício contínuo de descobertas, de erros e tentativas.

Nós, Brasileiros, estamos há décadas tentando e ainda há tanto que fazer, tanto que nos incomoda. Por outro lado, os Angolanos têm a árvore Imbondeiro que simboliza o ato de cair e levantar. Estão se levantando! O grande desafio de Países como os nossos, Brasil e Angola, é receber a modernidade de braços abertos sem esquecer as tradições, as origens, o passado que formou o presente e que criou lastros para o futuro.

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Luanda, sinceramente, OBRIGADO pelo seu carinho! Este meu gesto é muito mais do que o slogan da cidade que diz “Luanda merece o seu carinho”. Angolanos tenham a persistência de seguirem em frente, não desviem. Volto de Angola me sentindo mais Brasileiro, mas, me sentindo também um pouco Angolano.

Carlos FerreirinhaPresidente da MCF Consultoria & Conhecimento, especializada nas ferramentas de gestão e inovação do Negócio do Luxo e Premium,, com atuação no Brasil, América Latina e brevemente em Angola – www.mcfconsultoria.com.br  , que viajou à Angola a convite da empresa BDM.

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2 comentários:

Unknown disse...

Olá Dioneia,


Somos da Assessoria de imprensa da campanha fotográfica África em Nós, criada pela Secretaria da Cultura de São Paulo, com a curadoria do fotógrafo Walter Firmo.

Gostaríamos de enviar à você nossa matéria da campanha, caso seja interessante para seu blog, ressaltando que é um blog muito bem elaborado, parabéns pelo confrariadoluxo.


Ficamos agradecidos retornando este email para nós.


Desde já, nosso muito obrigado.


Assessoria África em Nós | http://www.africaemnos.com.br

Unknown disse...

Antes de mais receba o meu caloroso salve, vim lhe parabenizar pelo seu blog, falo especialmente da matéria que publicou em 2009 sobre Angola e Brasil. Porem sou Angolano na diaspora, vivo no Brasil desde 2009, e notei em suas palavras que esteve em casa ou seja em minha nobre Patria.

Paz, amor, carinho e sucesso tanto em todos os sentidos da sua vida.

PS:colocar Deus em primeiro lugar